domingo, 29 de setembro de 2019

JOSE BERNARDO DE MEDEIROS


José Bernardo de Medeiros, conhecido como bispo do Seridó, nasceu na fazenda Carnaubinha, hoje no município de São João do Sabugi e então no município da Vila Nova do Príncipe, atual Caicó (RN), no dia 20 de agosto de 1837, filho de João Filipe de Medeiros e de Joana Porfíria de Medeiros, pequenos proprietários rurais. Iniciou os estudos apenas aos 11 anos de idade em São João do Sabugi. Aos 13 anos seguiu para Vila Nova do Príncipe, onde começou a aprender latim na escola mantida pelo padre Francisco de Brito Guerra, líder político da região do Seridó, que fora deputado e depois senador pela província do Rio Grande do Norte. Em 1858 casou-se com Paulina Engrácia Fernandes, filha de seu professor Joaquim Apolinário Pereira de Brito, sobrinho do padre Guerra.

Nomeado subdelegado de polícia do distrito de Vila Nova do Príncipe em 1859 e, no ano seguinte, administrador da Mesa de Rendas, ainda em 1860 elegeu-se vereador à Câmara Municipal local, vindo a presidi-la. Seria reeleito três vezes. Paralelamente à trajetória política, foi nomeado suplente de juiz municipal em 1861 e coletor provincial em 1862. Foi eleito deputado provincial na legenda do Partido Conservador para o biênio 1868-1869, mas na década seguinte transferiu-se para o Partido Liberal, seguindo a liderança de Amaro Cavalcanti. Na nova legenda, foi eleito sucessivamente para os biênios 1878-1879, 1880- 1881, 1882-1883 e 1884-1885. Presidente da Assembleia Provincial em 1883 e 1885, voltou a eleger-se deputado provincial para o biênio 1888-1889.

Defensor da causa abolicionista, em 1888 fez parte da Comissão Libertadora dos Escravos no Seridó, sua região de origem. Por ser a principal liderança do Partido Liberal no Rio Grande do Norte, foi chamado pelos jornais conservadores de “bispo do Seridó”. Em 1889, rompeu com Amaro Cavalcanti porque este o havia preterido na indicação para a vice-presidência da província, preferindo Antônio Basílio. Em represália, na eleição para deputado geral daquele ano, apoiou Miguel Castro contra o nome apontado por Amaro Cavalcanti. Este, em contrapartida, demitiu dos cargos públicos provinciais os partidários de José Bernardo e lançou seu próprio nome na disputa. A eleição foi vencida por Miguel Castro, afirmando a liderança de José Bernardo no Seridó

Com a proclamação da República (15/11/1889), José Bernardo integrou-se às fileiras do Partido Republicano do Rio Grande do Norte, chefiado pelo o líder republicano Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Convocadas as eleições para o Congresso Nacional Constituinte, em 15 de setembro de 1890 foi eleito senador na legenda da agremiação. Tomou posse em 15 de novembro e foi signatário da Constituição promulgada em 24 de fevereiro de 1891. Na eleição para presidente da República realizada pelos constituintes no dia seguinte, a bancada do Rio Grande do Norte votou dividida. Enquanto José Bernardo e Pedro Velho apoiaram o paulista Prudente de Morais, os demais preferiram votar no marechal Manuel Deodoro da Fonseca, chefe do governo provisório, que foi vitorioso. Daí em diante, Miguel Castro, o antigo protegido de José Bernardo, seguiria curso próprio, elegendo-se governador do estado com o apoio de Deodoro da Fonseca e dos inimigos de José Bernardo.


Com a renúncia de Deodoro em 23 de novembro de 1891, no dia 28 Miguel Castro foi preso e deposto por tropas do Exército que seguiam a orientação de José Bernardo e Pedro Velho. Contudo, a colaboração entre os dois chefes políticos estaduais cessou quando José Bernardo reivindicou para Janúncio da Nóbrega Filho a vaga de deputado deixada por Pedro Velho, que em fevereiro de 1892 assumiu o governo do Rio Grande do Norte. Pedro Velho resolveu lançar seu irmão Augusto Severo de Albuquerque Maranhão contra o candidato de José Bernardo, e assim se consumou a ruptura. O líder do Seridó foi derrotado nas urnas, mas conseguiu, no Congresso, anular as eleições. Daí em diante os dois líderes se enfrentaram numa disputa demorada, em que o apoio do presidente marechal Floriano Peixoto tornava possível o recurso à força armada. Augusto Severo somente seria eleito um ano depois, em 1893, dessa vez concorrendo contra Tobias do Rego Monteiro, mas Pedro Velho  conseguiu manter-se à frente do Executivo estadual e eleger Joaquim Ferreira Chaves seu sucessor.

José Bernardo reaproximou-se de Pedro Velho em 1897, quando ambos apoiaram Francisco Glicério contra Prudente de Morais, na crise da cisão do Partido Republicano Federal, mas àquela altura o poder no Rio Grande do Norte já estava totalmente consolidado nas mãos de Pedro Velho e seu grupo: em 1896, dos quatro representantes do estado na Câmara dos Deputados, três eram membros da família Maranhão.

 Em 1900 José Bernardo concorreu a mais um mandato de senador na legenda do Partido Republicano do Rio Grande do Norte, contando com o apoio de Pedro Velho. Reeleito, integrou a Comissão de Finanças. Em 1904 adoeceu gravemente, retirando-se da vida pública. Faleceu na fazenda Solidão, em Caicó, em 15 de janeiro de 1907. De seu casamento com Paulina Fernandes teve oito filhos. Um dos seus netos, José Augusto Bezerra de Medeiros, também seguiu a carreira política. Foi deputado federal pelo Rio Grande do Norte (1915-1923, 1935-1937 e 1946-1955), governador do estado (1924- 1928), senador (1928-1930) e constituinte em 1946.

Foi também sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. A seu respeito foi publicado o livro Senador José Bernardo de Medeiros – o colosso do Seridó (2007).
RENATO AMADO PEIXOTO
FONTES: CASCUDO, L. História da Assembleia; CASCUDO, L

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