José
Bernardo de Medeiros, conhecido como bispo do Seridó, nasceu na fazenda
Carnaubinha, hoje no município de São João do Sabugi e então no município da
Vila Nova do Príncipe, atual Caicó (RN), no dia 20 de agosto de 1837, filho de
João Filipe de Medeiros e de Joana Porfíria de Medeiros, pequenos proprietários
rurais. Iniciou os estudos apenas aos 11 anos de idade em São João do Sabugi.
Aos 13 anos seguiu para Vila Nova do Príncipe, onde começou a aprender latim na
escola mantida pelo padre Francisco de Brito Guerra, líder político da região
do Seridó, que fora deputado e depois senador pela província do Rio Grande do
Norte. Em 1858 casou-se com Paulina Engrácia Fernandes, filha de seu professor
Joaquim Apolinário Pereira de Brito, sobrinho do padre Guerra.
Nomeado
subdelegado de polícia do distrito de Vila Nova do Príncipe em 1859 e, no ano
seguinte, administrador da Mesa de Rendas, ainda em 1860 elegeu-se vereador à
Câmara Municipal local, vindo a presidi-la. Seria reeleito três vezes.
Paralelamente à trajetória política, foi nomeado suplente de juiz municipal em
1861 e coletor provincial em 1862. Foi eleito deputado provincial na legenda do
Partido Conservador para o biênio 1868-1869, mas na década seguinte
transferiu-se para o Partido Liberal, seguindo a liderança de Amaro Cavalcanti.
Na nova legenda, foi eleito sucessivamente para os biênios 1878-1879, 1880-
1881, 1882-1883 e 1884-1885. Presidente da Assembleia Provincial em 1883 e
1885, voltou a eleger-se deputado provincial para o biênio 1888-1889.
Defensor
da causa abolicionista, em 1888 fez parte da Comissão Libertadora dos Escravos
no Seridó, sua região de origem. Por ser a principal liderança do Partido
Liberal no Rio Grande do Norte, foi chamado pelos jornais conservadores de
“bispo do Seridó”. Em 1889, rompeu com Amaro Cavalcanti porque este o havia
preterido na indicação para a vice-presidência da província, preferindo Antônio
Basílio. Em represália, na eleição para deputado geral daquele ano, apoiou
Miguel Castro contra o nome apontado por Amaro Cavalcanti. Este, em
contrapartida, demitiu dos cargos públicos provinciais os partidários de José
Bernardo e lançou seu próprio nome na disputa. A eleição foi vencida por Miguel
Castro, afirmando a liderança de José Bernardo no Seridó
Com
a proclamação da República (15/11/1889), José Bernardo integrou-se às fileiras
do Partido Republicano do Rio Grande do Norte, chefiado pelo o líder
republicano Pedro Velho de Albuquerque Maranhão. Convocadas as eleições para o
Congresso Nacional Constituinte, em 15 de setembro de 1890 foi eleito senador
na legenda da agremiação. Tomou posse em 15 de novembro e foi signatário da
Constituição promulgada em 24 de fevereiro de 1891. Na eleição para presidente
da República realizada pelos constituintes no dia seguinte, a bancada do Rio
Grande do Norte votou dividida. Enquanto José Bernardo e Pedro Velho apoiaram o
paulista Prudente de Morais, os demais preferiram votar no marechal Manuel
Deodoro da Fonseca, chefe do governo provisório, que foi vitorioso. Daí em
diante, Miguel Castro, o antigo protegido de José Bernardo, seguiria curso
próprio, elegendo-se governador do estado com o apoio de Deodoro da Fonseca e
dos inimigos de José Bernardo.
Com
a renúncia de Deodoro em 23 de novembro de 1891, no dia 28 Miguel Castro foi preso
e deposto por tropas do Exército que seguiam a orientação de José Bernardo e
Pedro Velho. Contudo, a colaboração entre os dois chefes políticos estaduais
cessou quando José Bernardo reivindicou para Janúncio da Nóbrega Filho a vaga
de deputado deixada por Pedro Velho, que em fevereiro de 1892 assumiu o governo
do Rio Grande do Norte. Pedro Velho resolveu lançar seu irmão Augusto Severo de
Albuquerque Maranhão contra o candidato de José Bernardo, e assim se consumou a
ruptura. O líder do Seridó foi derrotado nas urnas, mas conseguiu, no
Congresso, anular as eleições. Daí em diante os dois líderes se enfrentaram
numa disputa demorada, em que o apoio do presidente marechal Floriano Peixoto
tornava possível o recurso à força armada. Augusto Severo somente seria eleito
um ano depois, em 1893, dessa vez concorrendo contra Tobias do Rego Monteiro,
mas Pedro Velho conseguiu manter-se à
frente do Executivo estadual e eleger Joaquim Ferreira Chaves seu sucessor.
José
Bernardo reaproximou-se de Pedro Velho em 1897, quando ambos apoiaram Francisco
Glicério contra Prudente de Morais, na crise da cisão do Partido Republicano
Federal, mas àquela altura o poder no Rio Grande do Norte já estava totalmente
consolidado nas mãos de Pedro Velho e seu grupo: em 1896, dos quatro
representantes do estado na Câmara dos Deputados, três eram membros da família
Maranhão.
Em 1900 José Bernardo concorreu a mais um
mandato de senador na legenda do Partido Republicano do Rio Grande do Norte,
contando com o apoio de Pedro Velho. Reeleito, integrou a Comissão de Finanças.
Em 1904 adoeceu gravemente, retirando-se da vida pública. Faleceu na fazenda
Solidão, em Caicó, em 15 de janeiro de 1907. De seu casamento com Paulina
Fernandes teve oito filhos. Um dos seus netos, José Augusto Bezerra de
Medeiros, também seguiu a carreira política. Foi deputado federal pelo Rio
Grande do Norte (1915-1923, 1935-1937 e 1946-1955), governador do estado (1924-
1928), senador (1928-1930) e constituinte em 1946.
Foi
também sócio-fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte. A seu respeito foi publicado o livro Senador José Bernardo de Medeiros –
o colosso do Seridó (2007).
RENATO AMADO PEIXOTO
FONTES: CASCUDO, L. História da Assembleia;
CASCUDO, L
RENATO AMADO PEIXOTO
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